segunda-feira, 4 de junho de 2012

"Tiradas do Baú"



Lendo o brilhante livro "No Tempo dos Coronéis", do escritor e jornalista J. Ciro Saraiva, eis que encontramos um fato que diz respeito ao município de Icó. 

O livro conta a história das gestões dos três ex-governadores do Ceará - Virgílio Távora, Adauto Bezerra e César Cals. Tem como prefaciador o jornalista Macário Batista. É muito bom para quem quer entender um pouco mais sobre a política cearense. É um livro recheado de crônicas e de episódios que marcaram o período 1958-1986, quando o empresário Tasso Jereissati (PSDB) derrubou o poderio oligárquico da chamada classe coronelista e que reinou no Ceará por muito tempo.

Conta no item "Os Primeiros Seis" que o então deputado estadual Blanchard Girão (in memorian), jornalista guerreiro e atuante, sofreria mais do que os outros que com ele foram atingidos pela cassação em plena Ditadura Militar. Pois muito bem!

Seu pai foi juiz de Direito em Icó. Lutou o quanto pôde pela libertação de seu filho, que ficara preso sob a vigilância da então Ditadura Militar instaurada no Brasil. Como narra o próprio jornalista para o escritor do livro, "jamais perdoou a pusilanimidade dos desembargadores, a quem procurou na hora da aflição, não recebendo deles sequer uma palavra de conforto. No dia de minha cassação, foi grosseiramente atendido e tratado pelo Sr. Clóvis Alexandrino. A partir daquele episódio, entrou em profunda nostalgia, sentindo-se impotente para continuar na luta pelo filho que idolatrava. Acabrunhado, retirou-se para sua comarca (Icó), onde praticou o gesto extremo a 15 de junho de 1964, certamente decepcionado com a brutalidade dos homens a quem tanto amou". 

No momento em que o município de Icó sofre com a falta de juiz, eis que encontramos esta notícia no livro "No Tempo dos Coronéis" e que está disponível na biblioteca da Associação Cearense de Jornalistas do Interior (ACEJI), localizada na Avenida Dom Manuel, 423 - Centro, aqui em Fortaleza.

Para quem não sabe, o jornalista Blanchard Girão era detentor de um texto fino. Foi deputado estadual, como já disse aqui acima, e nos seus últimos dias foi articulista dos jornais O Povo e O Estado, além de ter sido assessor de Imprensa do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), nos tempos em que a desembargadora Dulcina Palhano era presidente do órgão trabalhista.

Blanchard Girão também tem vínculo com este blogueiro. O conhecemos durante a solenidade de criação do Centro Acadêmico de Jornalismo Blanchard Girão, das Faculdades Nordeste (FANOR), hoje inexistente, o que é uma pena. Fomos o seu primeiro coordenador juntamente com a também jornalista Vivian Gai de Almeida, num período em que tínhamos ótimos e combatentes estudantes, hoje muitos estão no mercado cearense e outros foram buscar mais conhecimento na academia.

Encerramos o "Tiradas do Báu" desta segunda-feira (04) com a seguinte frase que se encaixa perfeitamente nos dias atuais. Eis-la:

"Na política, os ódios comuns são as bases das alianças" [Alexis de Tocqueville]

Qualquer semelhança com o Icó é mera coincidência. Ou não?